Aqui em It Comes at night / Ao Cair da Noite (2017) já somos inseridos desde o início em um cenário dramático, em um lugar remoto, isolado do mundo, em uma cabana claustrofóbica no meio da floresta, e uma família utilizando máscaras de gás, descartando um ente querido em uma vala.
Parece uma situação apocalíptica, em nenhum momento temos uma explicação, mas fica evidente que uma estranha doença está infectando e dizimando a população.
O líder da família é Paul, e ele mantém regras rígidas para manter a segurança de sua esposa Sarah e seu filho Travis, e também conter qualquer tipo de imprevisto que venha a acontecer. O enredo é construído gradativamente em cima desse sentimento baseado no medo do desconhecido, gerando uma tensão e inquietação que persiste até os créditos finais.
A ambientação é um dos pilares centrais da experiência. A casa remota, cercada por uma floresta densa e opressora, é praticamente um personagem por si só. Em geral, associamos a natureza à liberdade, mas aqui ela é sufocante, fechada, impenetrável. Essa sensação de isolamento extremo, amplifica o suspense, desde um assoalho rangendo ou uma sombra se formando nas paredes do corredor.
Outros personagens aparecem na história e seu relacionamento é muito complicado, mesmo que eles pareçam dispostos a serem transparentes e cooperativos. A interação entre o grupo revela o terror mais íntimo: o medo do outro. A confiança se torna uma moeda valiosa e perigosa, e a linha entre sobrevivência e moralidade vai desaparecendo à medida que as circunstâncias se agravam. A compreensão entre sonho e realidade parece turva pela perspectiva do personagem Travis (Kelvin Harrison Jr.), o jovem da família, que apresenta um certo desconforto associado a sua ansiedade ou o vislumbre de uma verdade mais sombria.
A qualidade da direção de fotografia de Drew Daniels é minimalista e poderosa. Planos fechados, iluminação natural e o uso estratégico do escuro contribuem para esse clima opressivo e realista. Os enquadramentos são eficientes e certeiros, nos forçando a encarar os rostos, as reações, os silêncios. A fonte de terror parece algo ameaçador externo a casa, mas o verdadeiro destaque aqui não é pelo que se mostra, e sim pelo que se esconde. O diretor Trey Edward Shults que também escreve o roteiro, faz um ótimo trabalho, com a escolha corajosa de criar mais dúvidas do que respostas, provocando o espectador de modo a confrontar seus próprios temores e suposições.
O verdadeiro horror de Ao Cair da Noite está na desintegração dos laços humanos diante do desconhecido, já que o roteiro é um estudo minucioso sobre a fragilidade do que chamamos de moralidade frente à iminência da aniquilação. Esse filme não é para os caçadores de jumpscares. Por esse motivos, SUSPIRO E ARREPIO RECOMENDA!
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