A história gira em torno de Yakov, um rapaz que recentemente abandonou o judaísmo ortodoxo, deixando para trás a comunidade hassídica onde vivia. Yakov estava imerso em uma cultura mais rígida, regrada e até mesmo isolada, e agora ele faz parte de um grupo de apoio, onde recebe ajuda para se adaptar a sua nova vida. Uma transição que não é fácil tanto no âmbito pessoal como no profissional. No momento, arrumar um trabalho tem sido o maior desafio para Yakov, além do que, já fica implícito que um grande trauma pessoal foi o que o motivou a se distanciar de sua cultura. Inclusive, um membro da comunidade, Reb Shulem, parece estar sempre na cola de Yakov, quase que o assediando, tentando convencê-lo a voltar. Acontece que Yakov precisa muito de dinheiro e Reb lhe propõe um serviço específico por apenas 5 horas. Algo que Yakov já tem experiência.
Segundo a cultura tradicional, quando um judeu falece, outro judeu se torna guardião, ou vigia, zelando pelo seu corpo desde a hora da morte até o seu enterro, recitando preces e salmos. Isso demonstra carinho e respeito, pois o falecido não foi abandonado e seu corpo é protegido até a hora de seu descanso. O nome dado aquele que assume essa função é shomer, e geralmente são pessoas da família. Se não houver ninguém disponível, é possível contratar um, e é aí que Yakov entra na história. Depois de negociar seu preço, ele aceita o trabalho pelas próximas horas, na casa do falecido Sr. Litvak, até que a equipe funerária chegue. Essa madrugada vai colocar toda a sua percepção de realidade em jogo, além de uma profunda discussão sobre fé religiosa e a fé em si mesmo. A produção apresenta um cenário reduzido e simples, porém eficiente, assim como sua trama, que tem como vilão uma espécie de espírito maléfico, que persegue o falecido desde a época do holocausto.
O diretor Keith Thomas foi muito certeiro apostando no fator “o que a gente não vê” é muito mais assustador do que “uma ação escancarada”. A ambientação escura dentro da casa antiga, onde as sombras parecem abrigar um perigo iminente é realmente um dos destaques. O roteiro tem uma boa dinâmica, apresentando uma mescla de terror psicológico e sobrenatural, com certa profundidade desenvolvida sobre o drama pessoal de Yakov, revelado no decorrer da história. A viúva, Sra. Litvak que por vezes parece doce e meiga, às vezes pode parecer meio assustadora. Vale muito a pena uma conferida em The Vigil (2019), que traz uma temática que aqui funciona bem, mas que em outros tantos filmes acaba indo ladeira abaixo. Ficaremos de olho nos trabalhos de Keith Thomas. Por esses motivos, SUSPIRO E ARREPIO RECOMENDA!
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