Em meio a tantas revisitações da obra de Bram Stoker nas mais diversas mídias, temos mais essa bela graphic novel lançada aqui no Brasil pela editora Darkside. A história de Drácula: A Ordem do Dragão (2024) mantém basicamente toda a essência original, porém assume certa liberdade e se aprofunda em outros personagens, que ganham mais espaço e protagonismo, com novos acontecimentos e assim criando outras perspectivas.
O desenvolvimento dessa reinterpretação é uma homenagem de dois italianos de peso nos quadrinhos. A adaptação do roteiro é feita por Marco Cannavò, enquanto as ilustrações ficam por conta de Corrado Roi. A narrativa cria uma atmosfera que coloca o leitor imerso em um mundo gótico onde as sombras parecem de certa forma ganhar vida. Isso com certeza gera uma experiência sensorial única. Vale dizer que tínhamos deixado passar qualquer anúncio dessa publicação, mas quando a vimos já lançada, foi justamente o impacto das ilustrações que fez que imediatamente a comprássemos.
Aqui a arte é o grande diferencial e seu desenhos em preto e branco são caracterizados por grandes contrastes e texturas pinceladas que evocam uma sensação de inquietação. A ausência de cor reforça o clima de decadência e isolamento presente por toda a história. Corrado Roi já é conhecido por esse cuidado, e cada página é uma composição artística que contribui para o ritmo dessa atmosfera tensa. Nesse enredo, Drácula tem um enquadramento menor como vilão tradicional. Ele carrega um ar de espectro de entidade mitológica, quase abstrata. Essa abordagem amplia o simbolismo em torno do personagem, que deixa de ser apenas um predador para se tornar uma metáfora da morte, do desejo e da decadência moral do ser humano. O texto de Marco Cannavò não se limita ao terror sobrenatural. Temas como loucura, repressão sexual, fé e ciência, são explorados com uma profundidade que até então não tínhamos visto em outra adaptação para quadrinhos desse universo. Temos relações entre personagens que ganham nuances de paternalismo e resistência feminina, e a ambientação vitoriana por exemplo, parece ser usada para criticar a hipocrisia social e o medo do desconhecido, elementos centrais na obra original.
Justamente por apresentar novas possibilidades, fica difícil falar mais sobre essa publicação sem dar spoilers, mas definitivamente é uma obra que transcende o gênero, e que através de sua reinterpretação artística, respeita o legado de Stoker ao mesmo tempo em que propõe novas leituras. Essa combinação entre o roteiro inteligente e arte expressiva resulta em uma obra que pode ser apreciada tanto pelos fãs de terror quanto por leitores interessados em narrativas visuais sofisticadas. A capacidade de transformar o conhecido em algo novo e sedutor é fascinante e por esses motivos, SUSPIRO E ARREPIO RECOMENDA!
Drácula: A Ordem do Dragão
Editora: Darkside Books; 1ª edição (16 dezembro 2024)
Capa Dura: 128 páginas Dimensões: 21 x 2 x 28 cm
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