FILME - Frankenstein (2025)


 

Os elementos originais e a essência da obra de Mary Shelley estão presentes em Frankenstein (2025), porém com reajustes, através de uma reinterpretação do diretor Guillermo Del Toro. Todo mundo já conhece esse clássico do romance gótico, e as primeiras diferenças nessa nova produção estão na narrativa escolhida para conduzir a história que mostrará tanto o ponto de vista de Victor Frankenstein quanto o da Criatura. Aquela versão do cientista vaidoso obcecado pela ciência, agora dá espaço a homem que foi oprimido pelo pai severo além do trauma em relação a perda de sua mãe na infância, o fator chave que motiva Victor a desafiar a morte.



Outra mudança diz respeito a personagem Elizabeth, que ganha certo protagonismo mas agora ela não é noiva de Victor, e sim de seu irmão caçula, William. Naturalmente se estabelece uma atração entre os dois, sem ultrapassar o flerte contido. Um personagem novo e muito importante na trama é o rico tio de Elizabeth, Sr. Henrich Harlander, um fabricante de armas que demonstra grande interesse pela ciência e particularmente pela pesquisa de Victor, disposto inclusive a financiá-lo. É a partir daí que Victor consegue colocar seu experimento em prática até que chegamos na Criatura, que não se resume mais aquela aura infantilizada e furiosa. Agora temos um monstro constituído de fragmentos das memórias de vários homens, sem uma identidade própria, buscando seu lugar em um mundo do qual não pediu para fazer parte. A versão dessa Criatura é muito mais articulada e capaz de demonstrar empatia.







Estes novos pontos de vista permitiram uma aprofundação e um melhor desenvolvimento dos personagens ampliando a perspectiva do drama emocional e explorando temas como solidão, culpa e redenção. Na verdade, é comum ao diretor levantar pautas referentes ao “ser diferente em meio a sociedade”, e aqui todos estão inseridos nesse contexto. Victor é repudiado pela comunidade científica por pensar e difundir suas teses não convencionais. Harlander que se descreve como discreto, demonstra interesses particulares, que poderiam comprometer sua reputação. A sentimental Elizabeth confessa que nunca sentiu que fizesse parte desse mundo. A Criatura é obrigada a viver se escondendo pois não pode ser compreendida em um mundo cujos habitantes de mente limitada são os verdadeiros monstros selvagens. Seu único desejo é o de que seu criador lhe dê uma companheira, nos mesmos moldes em que foi concebido, para que dessa forma não viva sozinho. Enfim, cada um do seu jeito, todos buscam aceitação. Ainda sobre os personagens, apesar das várias camadas, Elizabeth ganhou mais espaço porém o aspecto da sua interação com Victor quanto com a Criatura parece meio vazia, sem direcionamento e objetivo. Não torna-se de fato a protagonista que poderia ser. A direção de arte e fotografia enchem os olhos, apesar de parecer ter algo comum a “lente das produções Netflix” que incomoda de algum jeito. A torre que vira o laboratório de Victor tem um visual interno sensacional, seja pela arquitetura ou pelo design steampunk de todo o maquinário. Já a parte externa, que aparece em cortes breves, deveria ser mais valorizada com imagens panorâmicas revelando sua imponência. A trilha sonora é algo genérico que passa despercebido, mas os efeitos sonoros funcionam bem. Esse filme merecia uma produção de cinema e isso fica perceptível, mas não desqualifica a experiência. O destaque na atuação vai para o Jacob Elordi evocando uma Criatura com extrema sensibilidade, muito pela expressão corporal. É um belo filme, mesmo que tenha deslocado o foco de alguns aspectos, a essência continua a mesma, e talvez seja a produção que mais dialogue com a história original de Mary Shelley. É importante que clássicos como esse continuem em evidência, e uma produção de Guillermo Del Toro sempre vale a pena, ele é um fã do gênero antes de tudo e sabe contar histórias. Por esse motivos, SUSPIRO E ARREPIO RECOMENDA!





Rotten Tomatoes: 🍅85%  / 🍿95%
IMDb: 7,7

País: EUA, México
Direção: Guillermo del Toro
Roteiro: Mary Shelley, Guillermo del Toro
Produção: Guillermo del Toro, J. Miles Dale, Scott Stuber
Elenco: Oscar Isaac, Jacob Elordi, Christoph Waltz, Mia Goth, Felix Kammerer, Charles Dance, David Bradley, Lars Mikkelsen, Christian Convery, Nikolaj Lie Kaas, Kyle Gatehouse, Lauren Collins, Sofia Galasso, Joachim Fjelstrup, Ralph Ineson, Peter Millard, Peter MacNeill, Burn Gorman
Distribuidora: Netflix

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