Depois de muito tempo afastados, os irmãos gêmeos Smoke e Stack (os dois interpretados por Michael B. Jordan) estão de volta ao seu lugar de origem, o Mississippi, onde pretendem se fixar e empreender no entretenimento. Estes anti herois, que agora são homens de negócios, já se depararam com o horror da Primeira Grande Guerra, mas eles nem imaginam que algo pior está por vir. Ao retornar da guerra, eles passaram tempo suficiente em Chicago, aprimorando-se nos negócios do crime. Não se sabe ao certo o por quê, mas por motivos de força maior eles devem ter sido obrigados a mudar de lugar, e Smoke e Stack agora possuem uma boa quantia em dinheiro.
Eles acabam comprando uma fábrica abandonada, de um proprietário pra lá de suspeito, com ares racistas. Agora esse lugar será a casa de atração noturna local, com muita bebida, comida caseira e o grande atrativo, a música de seu primo mais novo, Sammie (interpretado pelo músico Miles Caton), um bluseiro de mão cheia e com um futuro promissor. Seu apelido é Preacher Boy, por ser filho do pastor local, que só para constar, chega a lhe dar um aviso de que esse tipo de música seria a sua ruína. Além de seu primo, os gêmeos convocam o veterano Delta Slim para tocar piano e gaita, e mais alguns velhos conhecidos para os trabalhos da casa, assim como as mulheres que deixaram para trás. Annie (Wunmi Mosaku) é comerciante e curandeira local, foi casada com Smoke, enquanto Mary (Hailee Steinfeld), foi namorada de Stack. Por pior que tenham sido suas desavenças, o reencontro entre casais parece inevitável.
A grande força motriz desse filme são as pessoas. Um elenco forte com personagens variados e verdadeiramente cativantes, cujo contexto entre suas relações nos prendem a atenção. Todos os detalhes, como o fato de Smoke e Annie terem perdido um filho, ou o fato de Mary ser uma moça branca da alta sociedade, contam ou acenam para algo mais profundo. A primeira metade do filme é onde tudo isso se fundamenta, para então entrarmos no elemento sobrenatural fantástico e sanguinário que prevalece até o pós crédito. Temos uma sequência que funde terror e aventura, como se Um Drink No Inferno (1996) se cruzasse com A Encruzilhada (1986). A mitologia de vampiros pode parecer um clichê saturado, mas o diretor Ryan Coogler faz um ótimo trabalho, se reinventando e servindo o espectador com um atraente lugar e seus moradores no dia a dia, de modo que gostaríamos de ver mais. O fato é que a trama de terror é boa e divertida, mas se fosse só uma história de pessoas, também funcionaria. Sempre comprometido com o pé no realismo social, enriquecendo seu roteiro, Coogler entrega também um eficiente trabalho visual alternado as câmeras IMAX e Ultra Panavision 70, trazendo mais amplitude de cena. Isso poderia ter sido melhor utilizado, aproveitando melhor a bela fotografia do Mississippi, como era feito nos grandes clássicos de faroeste. Aqui as cenas são muito em cima dos personagens. A música é parte crucial da experiência toda. Temos em peso o blues tradicional, passando por seus derivados contemporâneos e até cantigas folclóricas irlandesas. A fusão dos estilos musicais é uma metáfora ao encontro de culturas e crenças distintas, promovida através de um convite, feito por um personagem que promete uma falsa liberdade, disfarçada de novo colonialismo.
Sem dúvida, Sinners / Pecadores (2025) é um dos nossos preferidos do primeiro semestre, e vale lembrar que para os apreciadores de blues, o filme traz algo a mais. Continue após o início dos créditos. Por esses motivos, SUSPIRO E ARREPIO RECOMENDA!
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