A arqueóloga e historiadora Scarlett, é uma mulher determinada e intelectualmente inquieta, extremamente impulsiva, não medindo esforços para obter o que deseja. De maneira sorrateira e invasiva, ela entra e sai de escavações e museus, seguindo o rastro de um lendário e poderoso artefato, a Pedra Filosofal. O pai de Scarlett pesquisou e procurou essa peça por toda a vida, mas após o seu falecimento, ela segue tentando honrar o seu legado. Scarlett acredita estar próxima de desvendar esse mistério e convoca George, um antigo amigo e cúmplice de aventuras, com conhecimento em línguas mortas, para poder decifrar as mensagens encontradas. Como resultado, eles são direcionados as famosas catacumbas subterrâneas de Paris, mas para acessá-las eles precisarão ser guiados por um grupo de exploradores clandestinos.
A missão, que parece inicialmente arqueológica, logo se torna uma descida vertiginosa em territórios que agora parecem desconhecidos aos guias. O desafio do grupo não será apenas o de obstáculos concretos. Seu desgaste será físico e mental, se vendo obrigados a confrontarem suas próprias lembranças, culpas e medos.
O formato de As Above, So Below / Assim na Terra Como no Inferno (2014) é o de um found footage, e seu estilo adiciona uma boa camada de realismo à narrativa, colocando o espectador imerso na ação. A câmera instável proporciona ângulos que funcionam como uma extensão da própria inquietação dos personagens, criando momentos de tensão a cada descoberta e situações sinistras pelo percurso.
Talvez a melhor característica do filme seja a atmosfera proporcionada pelas passagens estreitas e a escuridão quase total. Prevalece um ambiente opressivo, reforçado por sons abafados, respirações aceleradas e o uso inteligente do silêncio. Essa ambientação claustrofóbica contribui para a sensação constante de perigo e desconforto, tornando a experiência do espectador bem perturbadora.
Outra característica presente é o uso simbólico e filosófico das referências alquímicas e esotéricas, espalhadas por todo o trajeto dentro dos túneis. O espectador familiarizado com o conteúdo de O Inferno de Dante, pode colher melhor essas referências. De maneira provocativa, todo esse desenvolvimento funciona como uma linha temática, sugerindo que os horrores externos talvez sejam reflexos de tormentos internos, lembrando que o poema, como um todo, é uma alegoria da jornada da alma em busca de redenção, com o inferno simbolizando a culpa e o pecado que aprisionam o ser humano.
Apesar do filme exigir certa atenção aos detalhes, ele oferece um bom espaço para interpretações, justamente por ter essa estrutura de quebra-cabeça. A possibilidade de ter múltiplas leituras, estimula o espectador a buscar conexões entre elementos aparentemente desconexos. As pessoas que preferem um enredo claro e linear vão torcer o nariz.
O roteiro apresenta alguns problemas, seja pela continuidade ou pela inserção de sequências que não fazem diferença nenhuma a trama. Em determinado momento, o encaminhamento para o seu desfecho parece sofrer uma aceleração, mas não compromete a experiência.
No final das contas, é o tipo de filme que vale para se deixar levar pela trajetória de uma luta frenética pela sobrevivência, como se você fosse um membro da expedição, do que ficar analisando, por exemplo, os detalhes e a maturidade do roteiro. É um filme, sensorial, e melhor do que a média de sua categoria. Por esses motivos, SUSPIRO E ARREPIO RECOMENDA!
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