Para inaugurar a nossa “Sessão Preto e Branco” não poderíamos escolher outro filme, senão Häxan - A Feitiçaria Através Dos Tempos que acaba de completar 100 anos. Esse filme sueco-dinamarquês do diretor Benjamin Christensen foi lançado em 18 de setembro de 1922 e foi a produção mais cara na história do cinema mudo dinamarquês. Serve até hoje como grande referência artística em diferentes âmbitos não só no gênero de terror mas para o cinema como um todo. Para escrever esse filme, o diretor baseou-se em partes de seus estudos referentes ao livro Malleus Maleficarum que na verdade era um manual alemão para inquisidores do século XV.
Esse manual foi escrito por Heinrich Kraemer e James Sprenger, famosos inquisidores da época que a serviço do Papa Inocêncio VIII partiram em missão pelo norte da Europa buscando evidências de comportamentos ligados ao satanismo. Através de sete capítulos e sob um olhar analítico o diretor instiga, nós espectadores enquanto discorre a respeito do ser humano desde os primórdios da civilização até a era moderna sobre suas crenças, medos e como isso acabou se refletindo enquanto sociedade. Como ainda estamos no cinema mudo, as narrativas em formato documental começam cada capítulo sempre em curtos textos na primeira pessoa com o diretor apresentando evidências da época em questão, como a relação do homem com as forças da natureza, seus primeiros temores, a ideia de que algo maior nos rege, a personificação das primeiras entidades e o simbolismo como maneira de expressão.
Com a forma conceitual do diabo já estabelecida, chegamos ao foco principal da história que é a idade média e a histeria fomentada por uma igreja católica que baseada no medo e decidida a acabar com qualquer manifestação de heresia, inicia uma caça às "bruxas''. Häxan significa Bruxa, e essa figura representa o alvo de toda essa opressão. Qualquer pessoa com doenças mentais, um idoso com pouco discernimento, uma mulher usando plantas como instrumento de cura, um cientista ou uma família estrangeira com cultura diferenciada, enfim, qualquer um desafiando os preceitos de comportamento tidos como normais pela igreja, seria perseguido, e torturado até a morte.
Com a bela fotografia de Johan Ankerstjerne, tudo isso é mostrado no filme com um minucioso e primordial trabalho de direção de arte de Richard Louw, através de ilustrações de livros medievais, dramatização com atores, uso de próteses, efeitos de sobreposição, muita sutileza no uso de sombras, técnicas de stop motion e revolucionários efeitos práticos de época. Desde seu lançamento, passando por algumas edições e sendo restaurado por completo em alta definição, o filme teve algumas versões quanto a trilha sonora. O filme está disponível no Youtube mas também é possível comprá-lo em belas edições de DVD e Blu-ray.
Sem sombra de dúvida Benjamin estava a frente de sua época e numa postura irônica e crítica ele termina contextualizando a Idade Média e a era Moderna e como a ignorância exacerbada permitiu que milhões de pessoas fossem mortas. Cem anos do lançamento do filme se passaram, mas ele se mostra atemporal e nos faz refletir se realmente mudamos ou se continuamos a caçar bruxas, mas hoje em dia referindo-se a elas por outros nomes. Por esse motivos, SUSPIRO E ARREPIO RECOMENDA!
Rotten Tomatoes: 🍅 91% Tomatometer / 🍿81% Audience Score
IMDb: 7,6
País: Suécia, Dinamarca
Direção: Benjamin Christensen
Roteiro: Benjamin Christensen
Produção: Johan Ankerstjerne, Richard Louw
Elenco: Benjamin Christensen, Ella la Cour, Emmy Schønfeld, Kate Fabian, Oscar Stribolt, Wilhelmine Henriksen, Astrid Holm, Elisabeth Christensen, Karen Winther, Maren Pedersen, Johannes Andersen, Elith Pio, Aage Hertel, Ib Schønberg, Holst Jørgensen, Clara Pontoppidan, Elsa Vermehren, Alice O'Fredericks, Gerda Madsen, Karina Bell, Tora Teje, Poul Reumert, H.C. Nilsen, Albrecht Schmidt, Knud Rassow
Distribuidora: Criterion Collection, Janus Films, Western Video, Kino International Corp., Vidimax, Grapevine Video, BijouFlix Releasing, Hollywood's Attic, Something Weird Video, Embassy Pictures, New York Film Annex
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